Shojiki Coaching em Agricultura e Pecuária

Adubar sim, mas com inteligência e estratégia

Muitos agricultores, mesmo com as análises indicando altas taxas de fertilidade, fazem anualmente a mesma aplicação de NKP na semeadura. Quando nossa equipe faz uma recomendação diferente do que ele faz anualmente, baseado no diagnóstico efetuado, a estranheza, o medo e ansiedade tomam contam. A tomada de decisão se torna ainda mais difícil, quando vizinhos e vendedores falam que é preciso adubar para ‘garantir’ a boa produtividade, mas será que isso é mesmo verdade? Acreditamos que não! Afinal, os custos com corretivos e fertilizantes somam quase 30% dos custos de produção, ou seja o melhor é um diagnóstico eficiente e uma recomendação personalizada para cada área de manejo/talhão. O que sempre propomos é adubar com estratégia e de forma racional.

Esse método de trabalho, que guia as nossas ações, é baseada em muitos anos de experiência e conhecimento científico, para confirmar isso (além do aumento da produtividade e diminuição dos gastos com insumos) trazemos um trecho de um artigo chamado “Adubar sim, mas com inteligência e estratégia”, publicado no site Mais Soja.

Em solos de fertilidade construída, situação típica da agricultura de alta produtividade na região de Cerrado, é comum que os agricultores continuem adubando com quantidades fixas de nitrogênio, fósforo e potássio por temerem possíveis reduções de produtividade. Esse procedimento pode ser equivocado e levar a perda de competitividade do agricultor”, revela o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) Álvaro Vilela de Resende, membro da equipe do projeto “Eficiência do uso de fertilizantes e validação de novas tecnologias”, que envolveu diversas Unidades de pesquisa da Embrapa, instituições externas e produtores rurais.

Solo de fertilidade construída é o nome que se dá ao status adquirido em sistemas de produção, principalmente no Cerrado, após investimentos sucessivos em calagem, gessagem e em adubações corretivas e de manutenção com fósforo, potássio e micronutrientes, associados ao estabelecimento do sistema plantio direto, que mantém ou aumenta o estoque de matéria orgânica no solo.

Com o manejo ao longo das safras, esses solos passam a apresentar condições físicas, químicas e biológicas adequadas para as culturas expressarem melhor o seu potencial produtivo. “Apesar de o nível de fertilidade do solo ser alto ou até muito alto, é comum que os agricultores continuem adubando. Essa prática tem resultado em adubações desnecessárias ou superdimensionadas, com baixa eficiência de uso dos fertilizantes”

A equipe de pesquisadores conduziu um experimento em uma área cujo solo vem sendo cultivado há 15 anos em sistema de plantio direto com fertilidade considerada de adequada a alta para a região do Cerrado. Três cultivos de verão, em condições de sequeiro, na sequência de rotação soja/milho/soja, foram avaliados, sendo deixada uma área controle com o manejo de adubação utilizado normalmente pelo agricultor. As demais doses das adubações incluíram quantidades de fertilizantes abaixo e acima das empregadas pelo agricultor. As adubações de semeadura foram realizadas no sulco, via semeadora, e as aplicações em cobertura foram feitas manualmente, com filete de adubo nas entrelinhas.

Após a análise dos dados de produtividade, os pesquisadores concluíram que “nesses casos de elevada fertilidade do solo, a adubação de manutenção com quantidades que apenas reponham a exportação nos grãos constitui o manejo mais racional, uma vez que os nutrientes aplicados e não absorvidos pelas plantas podem ficar sujeitos a processos de perdas no sistema”.

Outros resultados importantes obtidos foram que “a soja não respondeu às adubações NPK de semeadura ou de cobertura potássica, em nenhuma das safras” e que “a produtividade do milho (safra 2011/2012), no entanto, respondeu tanto à adubação NPK na semeadura como à cobertura nitrogenada, o que confirma a maior responsividade dessa cultura à adubação”.

Os pesquisadores interpretam que “a ausência de resposta da soja e a resposta relativamente baixa do milho à adubação são indícios de que o solo, de fato, apresentava grande reserva de nutrientes, e de que é possível diminuir a quantidade de fertilizantes aplicados no solo avaliado. Portanto, a adubação com quantidades fixas de N, P e K não parece adequada para o manejo do sistema de produção de soja e milho em solos com esse padrão de fertilidade. Para otimização do dimensionamento das adubações é preciso investir em monitoramento do solo ao longo do tempo, ajustando o fornecimento de cada nutriente de forma individualizada, de acordo com um diagnóstico periódico da condição de fertilidade na lavoura”.

No estudo de caso relatado, a adubação otimizada representaria uma economia expressiva no uso de fertilizantes. “A dose de fertilizante normalmente utilizada na fazenda para a adubação de semeadura do milho (359 kg/ha) poderia ser reduzida em 47 kg/ha (13%), uma vez que a dose de máxima eficiência econômica foi de 312 kg/ha. Além disso, a adubação de cobertura nitrogenada poderia ser reduzida de 350 kg/ha para 263 kg/ha, ou em 25%. A soja, por sua vez, dispensaria adubação”.

Portanto, de acordo com o pesquisador Álvaro Resende, o agricultor deve seguir estratégias como o monitoramento do solo e ter conhecimento das taxas de exportação de nutrientes pelas colheitas das culturas e avaliar o balanço de nutrientes no sistema para depois definir a necessidade de adubação. “Essas estratégias, relativamente simples e que podem ser incorporadas à rotina das fazendas, são decisivas quando se busca eficiência de gestão para maior competitividade na produção de grãos, com ganho de rentabilidade”, diz. Ainda segundo ele, o monitoramento do sistema de produção por meio de análises de solo e a avaliação econômica realizada nos estudos conduzidos até agora indicam a necessidade de se reavaliar o manejo da adubação em solos de fertilidade construída, visando o uso mais eficiente de fertilizantes.