7 mandamentos que aprendemos com Ana Maria Primavesi e você também deveria conhecer (e aprender).

By Luciane Stahl

January 14, 2020

A Dra. Ana Maria Primavesi nos deixou recentemente, aos 99 anos, ao longo de sua vida trouxe muitos ensinamentos a engenheiros agrônomos, zootecnistas, engenheiros florestais, agricultores e pecuaristas. Por isso preparamos este artigo especial, uma singela homenagem a essa incrível cientista que deixa um legado que jamais pode ser esquecido ou renegado por quem está na agricultura e pecuária.

Sintetizamos seus ensinamentos mais importantes que compõe um dos pilares do nosso trabalho de fertilidade de solo e nutrição de plantas, sabemos que seus ensinamentos são inúmeros e vão muito além, se você não conhece a obra de Ana Maria Primavesi, recomendamos que você tenha um primeiro contato através do seu site oficial que conta com inúmeros artigos, cartas e textos (https://anamariaprimavesi.com.br/)

1. Nenhuma análise química de solo, sozinha, pode dizer algo sobre a nutrição vegetal. A questão física do solo também deve ser sempre analisada em conjunto.

Ana Maria Primavesi nos lembra que “a análise indica por exemplo S mas não diz se está na forma de SO3 (nutriente essencial) ou SH4 (gás tóxico para as plantas). O mesmo vale para todos os cátions, inclusive o N que, em forma de NH4, em maiores quantidades é tóxico para muitas plantas enquanto que em quantidades menores pode até beneficiar a absorção de NO3”, ela ressalta ainda que “Pelo aquecimento climático aumenta cada vez mais a indisponibilidade de Ca, Cu e B, não adiantando uma adubação no solo, mas somente uma foliar”

2. Na Agricultura tudo é equilíbrio! E por isso o equilíbrio é nosso objetivo principal!

Primavesi destaca que “nenhuma adubação tem efeito positivo se faltam os ‘pares’ mais essenciais (por ex. N/CU, P/Zn, K/B, Fe/Cu/Mo, etc), da mesma forma “Nenhum nutriente é benéfico se não existe em equilíbrio com os outros nutrientes. Assim, por ex. Uma grande quantidade de K e muito pouco Boro evita o aproveitamento do K. O mesmo vale para N, P, Ca, Mg e etc.” e principalmente “Os defensivos acrescentam também seu ‘nutriente base’ à planta, provocando seu excesso e portanto induzem a deficiência dos seus pares. Por ex: Maneb (Mn) induz a deficiência de cálcio, Parathion (P) a de zinco, Captan a de cobre etc. Ou de algum elemento que faz par com o Nitrogênio e se encontra em nível baixo.”

3. O pasto é uma planta, e como toda planta precisa estar em equilíbrio para proporcionar o que os animais precisam.

Primavesi tinha um jeito peculiar e empírico de observar o entorno, e suas observações renderam muito aprendizado, principalmente no que diz respeito a importância de um Pasto bem nutrido e equilibrado. Assim como existe um balanço nutricional ideal para nós, existe para os animais. “O gado estava derrubando a cerca? Falta de cobre. Novilhas ariscas, que quebram cercas, ou gado zebu muito nervoso: deficiência de magnésio. (…) Potros e bezerros morrem poucos dias depois do nascimento, fracos, apesar de terem nascidos grandes? Deficiência de iodo. A falta de cloro leva as vacas à morte depois da parição, ou a deficiência de cálcio em capim rico em ácido oxálico faz com que as vacas fiquem com a cara inchada.“

4. O solo tropical não é pobre em nutrientes, ele só é diferente do temperado e muito mais rico em vida!

Primavesi nos ensinou que o solo tropical é diferente dos temperados, não só na questão mineral, mas em muitas outras, nosso ecossistema é diferente e precisamos aprender a trabalhar com ele, não tentar reproduzir aqui as condições de solos temperados. “Se os solos tropicais fossem ricos em nutrientes, durante as horas quentes do dia as plantas perderiam água ao invés de absorvê-la, segundo a lei da osmose. E isso ocorre de fato, como ocorre a “seca fisiológica” em que as plantas murcham em solos suficientemente úmidos quando receberam uma calagem elevada ou uma adubação pesada com NPK.”

5. Ainda tem gente que prefere “criar pragas” enquanto outros preferem um bom manejo do solo e das plantas!

Numa das suas populares “Cartas da fazenda”, Ana escreveu “Criar pragas para quê?”, ela usa um conto para explicar que o manejo inadequado, sem estratégia, sem considerar a química, a física e a biologia do solo, é que provocam o aumento das pragas. Ela destaca que uma boa estratégia de rotação de culturas e a manutenção das estruturas química, física e biológica do solo, geram um ambiente não propício ao desenvolvimento de pragas, garantindo um menor uso de agroquímicos na lavoura.

6. A recuperação de um solo degradado é ativa, nunca passiva.

Um solo degrado precisa de uma estratégia de recuperação, um esforço mútuo de engenheiro agrônomo e equipe de manejo para proporcionar aquilo que lhe falta: química, física e biologia. “Um solo esgotado, duro e abandonado nunca mais se recupera por si próprio. As plantas que crescem nele são tão fracas e escassas que não conseguem fazer suas raízes penetrarem nas camadas duras do chão, nem podem sombreá-lo. O repouso por si só também não produz a recuperação do solo. O que a produz é a poliflora, a matéria orgânica, o sombreamento e a força das raízes num solo arejado.” “Recuperação de solo é, portanto, o restabelecimento da estrutura porosa e da vida microbiana!!!”

7. Em solos tropicais não se vive de NPK.

A “nossa cultura” agrícola busca “imitar” a de solos temperados e com isso queremos dizer que há uma ‘necessidade’ irracional de aplicar NPK a todo momento. Ana Maria Primavesi nos lembra que “Os monocultivos e as forrageiras, pastadas pelo gado, parecem ‘exportar’ nutrientes, tornando os solos mais pobres. Parece que o lógico seria adubar, repor o que foi exportado. mas o ilógico é que se exportaram 45 nutrientes e se pretendem devolver somente 3 (NPK), o que desequilibra todos os outros nutrientes, desencadeando o aparecimento de inúmeras doenças e pragas.”

É preciso sempre se pensar na biodiversidade, na rotação das culturas! É a variedade de plantas que possibilita a diversidade de micróbios, que mobilizam e garantem os diferentes nutrientes no solo. Lembrando-se sempre do outro ‘mandamento’: equilíbrio é tudo!

“O segredo da vida é o solo, porque do solo dependem as plantas, a água, o clima e a nossa vida. Tudo está interligado. Não existe ser humano sadio se o solo não for sadio.” Ana Maria Primavesi (1920-2020)